sexta-feira, 20 de abril de 2012

A música, o glamour e a vibe



     Que eu, órfãos da Fiction e várias outras pessoas andam descontentes com a atual cena da música eletrônica em Goiânia não é novidade. Entretanto, recentemente, uma postagem de Fabrício Roque no facebook me fez pensar em como estamos lidando com o "problema", e em como pode-se resolver ou reverter a atual situação.
     Goiânia, infelizmente, não possui o mesmo volume, nem a mesma qualidade do público que São Paulo dispõe, que pode sustentar um club "underground" por muito tempo. Porém, me fez parar para pensar e analisar alguns fatos e dados, tomando como base a única representação do "underground" disponível que é a Deep Loop.
     Pensando somente em possibilidades e considerando exemplos que deram certo em locais que até então não havia ninguém no contexto, é possível tirar boas expectativas a respeito. Tomando como base a Deep Loop, que começou em setembro de 2010, e sua primeira e modesta edição contou com Aninha e Mauro Farina, residentes do Warung e D-Edge (até então), no line-up tinham aproximadamente 200 a 300 pessoas. Já na segunda edição, a qual não estive presente, mas comenta-se que haviam entre 300 e 500 pessoas e contou com Ingrid, também residente do club paulistano D-Edge, e Alê Reis, do dueto com João Lee, Dubshape. Na terceira edição, com local novo, um video mapping insano, Diogo Accioly e China, ambos do D-Edge, no line-up, levaram a Deep Loop a outro patamar em uma festa que muito facilmente contou com um público próximo de 1000 pessoas. Na quarta edição, a festa já havia tomado proporções tão grandes que outro local precisou ser escolhido para acomodar o enorme e crescente público, e a festa que contou com Dubshape (João Lee e Alê Reis) e Lubalei (Residente do Superafter do D-Edge), provavelmente tinha um público próximo de 1200 a 1500 pessoas. E na última e mais recente edição, que contou com Gorge, proprietário dos selos Katchulli Records e 8bit records, teve um público muito provavelmente próximo das 2000 pessoas.
     O crescimento do contexto da Deep Loop é gradual e, caso fossemos representar em gráfico de público/edição, seria uma curva ascendente, provando que este segmento, o "underground", tem sido mais procurado pelo público, e as pessoas aparentemente estão começando a cansar de pagar pra ter "glamour", mas não ter música, não ter vibe. O crescimento da festa dá-se da maneira mais simples e que eu acredito ser a melhor possível: boca a boca. As primeiras 200 pessoas, gostaram tanto que chamaram outras pessoas para irem, que por sua vez, também gostaram e então levaram mais gente. Ou seja, a idéia de se divertir, num lugar com boa música, parece dar certo.
     Na verdade, isso de "glamour", provavelmente enche o saco quando a pessoa resolve sair pra uma balada, e ouvir músicas novas, diferentes, coisa que não se toca em rádios. Se uma casa, uma festa, quer ser respeitada, esta precisa vender aquilo que espera-se encontrar: música. Que aliás, pra mim, este é o propósito de uma boate, ter música na qual as pessoas vão para ouvir e dançar.
     Essa idéia de vender música, Goiânia teve dois clubs bastante respeitados no cenário nacional e internacional, que foram o  Pulse Club & Lounge e o Club Fiction. Ambos deram certo, durante um período de tempo considerável, e ambos eram muito bem frequentados até alguém resolver dizer que a moda era ir para algum lugar se divertir "com glamour". É claro que o comercial ganhou muita força por aqui. O problema foi que começaram a aparecer várias casas neste segmento, de modo que a cena se tornou somente comerical. Excessivamente comercial. E como tudo em excesso, diminui o prazo de validade, muita gente já voltou a procurar as festas e casas "underground", nas quais pudessem se divertir sem se preocupar em como estivessem vestindo, bebendo, dançando e até conversando. O que tornou a noite mais divertida que no lado mais comercial da coisa. O que nos leva e pensar: Goiânia teria espaço pra outro club assim? Teria. Mas ele não pode começar querendo ser grande, pois não temos tanto público assim, então seria preciso criar uma fidelidade com o público, e fazê-lo crescer. Contudo, demanda muito tempo, e dinheiro, mas acredito nessa possibilidade sim. Basta alguém querer, e fazer acontecer. Poderíamos ter uma espécie de D-Edge do cerrado se o trabalho for feito corretamente.
     Depois de alguns (ou vários) puxões de orelha, mesmo que minha opinião não tenha força, parece que a casa na qual eu mais falava mal por aqui, resolveu fazer o que deveria ter feito há tempos: vender música. E aparentemente pararam com a tal da "presença vip", e dos "famosos" "atacando de DJ". Continuam comerciais? Sim, claro, pois é disso que gostam e preferiram fazer, mas, vendendo música e colocando profissionais de verdade para o trabalho.
     Aliás, um exemplo muito interessante no qual as pessoas, proprietários e promoters deveriam seguir, é o D-Edge. Por quê? Porque é, com quase toda certeza, o mais importante club do Brasil, e um dos mais famosos clubs do mundo. O D-Edge completou 12 anos de existência, e quem seria o melhor pra dizer como as coisas funcionam, o que já aconteceu, como eles pensam e o que acontece por lá que os DJs, o proprietário e os promoters do club? Não custa nada seguir um exemplo que deu certo, e funciona com base na música.



     Fecho a postagem deixando este vídeo do D-Edge, para que talvez, pessoas reflitam sobre como uma balada realmente deve ser, e se atinge o sucesso, dispensando o glamour e o luxo. Baseando-se somente em música, vibe, e inovação.