segunda-feira, 7 de março de 2011

A arte que se banalizou



    Foi-se o tempo em que apenas poucos e bons se arriscavam num arte completamente nova e que no começo, poucos gostavam... Nem sei ao certo quando isso começou, mas muito provavelmente o 'Disc Jockey' como era conhecido, surgiu na década de 60 ou 70, com o início das casas noturnas onde as pessoas iam pra dançar. Não sei mesmo... Mas é o que tenho notícia.
    Aos poucos, conforme aumentavam o volume das festas e casas noturnas, o número de DJs no mercado naturalmente cresceu. A maioria dos bons DJs brasileiros começaram sua empreitada tocando rock. Ou pelo menos dos que gosto de ouvir tocando e me interesso pelo trabalho deles. Citando nomes, pode-se ter o exemplo de Carlo Dall'Anese, André Pulse e Anderson Noise. E assim como esses três, muitos começaram do nada, fazendo festinhas em casas de amigos, aprendendo, se aperfeiçoando, tomando gosto pelas novidades, e fazendo tudo com um único motivo: amor pela música; gostar de tocar.
    Tenho ficado cada vez mais assustado com o volume de pára-quedistas, aventureiros, e outros adjetivos patéticos que podem ser usados pra nomear essas pessoas. Fico não mais envergonhado, com vergonha alheia, não consigo mais achar graça, eu simplesmente fico PUTO.
    Desde o surgimento do polêmico Porra Dj, cada vez mais e mais #fail aparecem na cena. Se é que se pode chamar isso de cena. Tudo o que se tem são 'Djs' que tocam simplesmente com um computador, e agora, não mais se preocupam em fazer alguma coisa no Virtual Dj. Agora, já esculhambaram foi tudo fazendo playlist no Windows Media Player e ainda se entitulando 'DJ'.
   Com este ano, foram 11 edições de BBB, de todos esses 11 anos de BBB, pelo menos a metade deles 'virou dj', ou 'ataca de dj' em qualquer lugar. Gente sem o menor preparo, vontade, ou conhecimento pelo menos no quesito de repertório. Gente que simplesmente não tá nem aí pra música.
   Eu me perguntava o POR QUE disso tudo. Nunca entrou na minha cabeça, o que leva um promoter, uma casa, a PAGAR por esse tipo de 'serviço'. Pensei muito e cheguei a uma conclusão: as pessoas tem se tornado cada vez mais 'aculturadas'. E a culpa é de todo um sistema, que ensinou todo mundo a gostar de uma coisa só. A tal da moda.
   Eu via eventos em São Paulo como o Skol Beats, e desde moleque era tentado a ir no que era o maior evento de música eletrônica do Brasil. Tenda Marky & Friends com o melhor do techno e do drum 'n bass, palco mundo onde tocavam os melhores produtores e DJs de house do planeta... O que virou hoje? Skol Sensation. É óbvio que o evento é uma obra prima, efeitos luminotécnicos fabulosos, estrutura surreal, decoração animal. Mas e a música? E a trilha sonora pra compor o cenário? Ah... claro, hits. Ainda trazem os que fazem bonito, por mais que gosto seja igual a... **, o que acontece é que hoje em dia só se gosta de uma coisa. Pra mim um evento que durava 1 ou 2 dias inteiro, com pelo menos 20 artistas, se reduzirem pra 6 é uma vergonha. Ou a falta dela.
   Conheço muita gente que foi a pelo menos duas edições do Skol Beats e foram em uma Sensation e o veredicto é sempre o mesmo: Muito ruim. Motivo: público ruim.
   Podem falar o que quiserem, pra mim quem faz a balada ser uma bosta ou ser muito foda é o público. Se você tem um público ligado a novidades, que curte música boa, que sai do senso comum, sai da moda, não liga pra os outros pensarem que ela é diferente, é o que faz do evento ser excelente. Gente sempre disposta a curtir, e vibrar, e o principal, a incentivar o profissional que faz isso PARA o público. O que é bem difícil achar hoje em dia. Já que de vários amigos que tenho, a maioria fala a mesma coisa: que vai pra balada pra beber, ficar louco e pegar mulher. Ou seja, na prática e na teoria, foda-se o artista, foda-se quem trabalha pra fazer aquilo tudo ser legal. O negócio se resume somente a álcool e putaria pra ser bom.
 
      O fato é que não fosse por um público medíocre e idiota que paga pra ver ex-BBB simplesmente por serem pseud-sub-celebridade temporária, porque daqui uns 3 anos ninguém lembra deles mais, só pagam pra ver essa pessoa em duas situações: se for mulher é gostosa, se for homem é bonito. E enquanto existirem casas que vão se sujeitar a isso, a merda toda nunca vai parar. E só tende a piorar. Porque enquanto existem esses reality-shows que promovem esse tipo de negócio, isso vai existir.
    Na prática, os responsáveis pela baderna estão complemente dentro de sua razão. Aproveitar o momento de fama pra ganhar uma grana, e fama enquanto ainda a têm. Basicamente, são pessoas que não tiveram o menor êxito profissional em área alguma, a única coisa que prova é o que eles mesmos falam. Desses ex-bbb, podem notar, os que são profissionais de verdade, têm um emprego, e levam uma vida normal mesmo depois dessa porcaria, simplesmente desaparecem. Como deveria ser normalmente.
    Acontece que, inegavelmente são pessoas totalmente desprovidas de dom pra qualquer tipo de coisa, exceto cuidar da própria vaidade. Ou seja, qualquer outra coisa que essas pessoas se proporem a fazer, elas não vão conseguir. Por quê? Nas demais coisas da vida, ainda mais no lado artístico, é necessário que se tenha um dom. Tocar uma guitarra é difícil, quem acabou de começar a tocar ou já experimentou sabe. Bateria também, e todos os outros instrumentos, são difíceis de se aprender, leva tempo e consome dinheiro. Esse tempo que seria levado pra aprender, pode ser o suficiente pra 'fama' dessas pessoas acabarem. O que sobra? O que mais tem recursos digitais, automatizados, de interfaces simples e práticas. DJ.


       Por causa de pessoas como essas, criou-se um preconceito que quase não existia e hoje em dia muita gente ainda reluta contra a existência de recursos digitais na discotecagem. O que teoricamente só tem acrescentar, acabam sendo banidos injustamente por causa de uma pessoa que só tem uma coisa a fazer pela profissão, que é destruir.
     Faltam nas pessoas, cultura, bom senso, aprender a sair do que é moda, parar de gostar de algo só porque é moda, aprender a criar seus próprios gostos e indentidades culturais. Se todo mundo pensasse assim, não se marginalizaria tribos como de rockeiros, que são vistos como estranhos, nojentos, e outros adjetivos que já ouvi muito por aí... Entramos numa geração onde basicamente aparência é o que importa e o conteúdo foi esquecido.
    Eu sou da cena da música eletrônica, inclusive underground. Que graças ao bom Deus, não foi infestada por gente assim, e espero que nunca seja, mas que por ainda fazer parte do eletrônico de um modo geral, é frustrante, é triste. E eu não quero isso. Nem eu, nem vários outros amigos e profissionais. Talvez, um dia, quando cada um se colocar em seu devido lugar, tudo melhore.
   Aí, tocar vai deixar de ser modinha, e só vão ficar os que são realmente apaixonados por música, e a têm como hobbie ou profissão mas zelam com o mesmo carinho. Gente que eu acredito que pode fazer a cena mudar e melhorar. Mas pra isso, o público tem que ajudar.
   Volto a dizer: balada boa, vibe boa, não precisa estar lotada e sim ter a pista certa, o público certo. Balada ruim, tem o público ruim. Agora... eu deixo a seguinte pergunta pra quem ler pensar a respeito: Será que é isso mesmo que você quer pra o lugar onde vai se divertir, ver gente bonita, ouvir bom som (teoricamente)?
   E tenho dito: a cena só melhora, se o público melhorar. Enquanto isso... Goiânia segue sem cena underground, exceto festas esporádicas que aparecem pra salvar nossa vida, enquanto muitos se acotovelam, chingam, brigam, pra entrar num show de axé, sertanejo e boates da cidade, eu prefiro continuar com meu som semestral, porém com um público selecionadíssimo, djs selecionadíssimos, ótimos vjs, e ótima estrutura. E o melhor, sem bagunça, sem briga, sem problemas pra pegar um copo d'água, que por sinal, é bem melhor que pagar 80, 100 reais pra entrar numa boate e ver gente escrota, chata, sem educação alguma, e correr o risco de ver esporadicamente bons djs, simplesmente por status. Não obrigado, próxima festa underground por favor.
   Quer ver música boa, com gente legal? Deep Loop #3.